sábado, 4 de julho de 2009

A Bíblia e a Revelação Geral

Deus se revelou para a humanidade de duas formas. Uma revelação específica, através da palavra, a bíblia; e uma revelação geral, que inclui todos os meios à parte de Cristo e da Bíblia, materializada na criação. Alguns autores chegam a afirmar, neste sentido, que Deus teria escrito dois livros para posteridade: a bíblia e a natureza. O presente artigo tem por finalidade abordar a revelação geral de Deus. Busca, desta forma, compreender com clareza o que significa a palavra revelação e em que consiste a revelação geral. Isto feito, na parte final pretende-se correlacionar à temática da revelação geral com o trabalho de Don Richardson, que cunhou o conceito do Fator Melquisedeque.

Revelar é uma palavra de origem grega. Significa descobrir, tirar o véu, fazer conhecer. Revelação, no sentido bíblico, significa que a verdade é revelada mediante a vontade do Senhor. É, portanto, o criador quem decide se revelar para a criatura. Esta, não possuiria as condições necessárias para, por si própria, desvendar os mistérios do criador e nem conhecer os seus planos e propósitos. O Senhor é incompreensível mediante a limitação da racionalidade humana, a menos que Ele queira se revelar. O bom é que Ele se deu a revelar.
A primeira forma de revelação do Senhor para a humanidade é a chamada revelação geral, que se dá através da criação (Sl 19:1-4), da natureza (Rm 1: 18-21) e da própria consciência do homem (At 14.17). Ou seja, a revelação geral mostra que Deus se permite conhecer por meio da criação.

O Salmo 19:1-4 declara: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo.” Assim, conforme esta passagem do Antigo Testamento a existência e o poder de Deus podem ser vistos claramente através da observação do universo. A ordem, detalhes e maravilhas da criação testemunham a existência de um Criador, poderoso e glorioso.

No Novo Testamento, em Romanos 1:20, esta idéia é reafirmada: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”. Atos 14:17 reforça esta idéia: “contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.”

De posse desta leitura é conveniente retornar ao conceito de revelação geral. Após recorrermos a revelação específica do Senhor, a bíblia, é possível definir revelação geral como sendo a manifestação de Deus, o testemunho da sua existência, a todos os povos, em todas as épocas, mediante a sua criação, tornando a humanidade indesculpável, mesmo no tempo da ignorância. Ellen G. White[1] demonstra muito bem este entendimento na seguinte passagem: “A obra do Criador, como se vê pela natureza, revela Seu poder. Mas a natureza não está acima de Deus, nem é Deus na natureza, como alguns pretendem que seja. Deus fez o mundo, mas o mundo não é Deus; o mundo não passa de obra de Suas mãos. A natureza revela a obra de um Deus positivo, pessoal, mostrando que Deus existe, e que é galardoador daqueles que O buscam diligentemente.”
O reconhecimento da existência de um Deus, que é supremo, mediante as obras da Sua criação acontece em diversas culturas do mundo, sendo, para diversos pesquisadores, um fato importantíssimo no estudo da missiologia, na medida em que é um elemento que permite criar uma ponte inicial com culturas diferentes. Ou seja, haveria uma consciência universal da existência de um Deus único, entre as diversidades de expressões culturais e religiosas de diferentes povos e civilizações ao longo da história.
O teólogo Don Richardson, pesquisou esta temática em várias culturas ao redor do mundo e denominou esta consciência universar de “Fator Melquisedeque”. O nome Melquisedeque é uma alusão ao sacerdote “do Deus Altíssimo”, considerado Rei de Salém, que posteriormente viria a se tornar Jerusalém. Em um relato bíblico, esse sacerdote-rei, abençoa Abraão, na medida em que, apesar de não pertencerem ao mesmo povo, ao falarem de Deus entre si, perceberam que falavam do mesmo Deus. O El Elion (Deus Altíssimo) de Melquisedeque era o mesmo Yahweh (Todo Poderoso) de Abraão. A referência a esse personagem místico, aponta para a existência do culto monoteísta anterior às grandes religiões atuais.
Em sua pesquisa Don Richardson encontra mais de 25 exemplos em diversas culturas do mundo, demonstrando que há uma substância universal no que se refere a crença em um Deus supremo. Esta substância universal é chamada pelo autor de Fator Melquisedeque. Don Richardson narra exemplos como o de Epimênides na Grécia Antiga que mandou levantar altares ao “Deus Desconhecido”, que posteriormente foi utilizado por Paulo para falar acerca das Boas Novas aos gregos; e encontra diversas terminologias utilizadas em diversos povos para nominar o Deus Supremo, demonstrando a veracidade da substância universal: Viracocha (o Senhor, criador onipotente de todas as coisas) para os Incas, Thakir Jiu (verdadeiro deus) povo Santal, Magano (Criador onipotente de tudo quanto existe) povo Gedeo da Etiópia, Koro (O Criador) povo Mbaka da República Centro Africana, Shang Ti (O Senhor do Céu) para os Chineses, Hananin (O Grande) para os Coreanos, Y’wa (O Deus Supremo) povo Karen da Birmânia, Karai Kasang (um Ser sobrenatural e benigno, cuja aparência ou forma excede a compreensão do homem), Hpan Wa Ningsang (o Glorioso que cria) ou Che Wa Ningchang (Aquele que sabe) povo Kachin, Gui’Sha (Criador de Todas as Coisas) povo Lahu, Siyeh (O Deus Verdadeiro) povo Wa, Pha-Ariya-Metrai (O Senhor da Misericórdia) para os povos Shan e Palaung, Chepo-Thuru (O Deus que tudo sustenta) povo Naga da Índia e Pathian (O Deus Supremo) para o povo Mizo da Índia, dentre outros exemplo citados no livro.
No caso brasileiro, Nhanderuvuçú era a denominação do “Deus supremo” na religião do povos primitivos do Brasil. Para os índios brasileiros este “Deus supremo” criou todas as coisas, inclusive o ser humano a partir de Amaú, a primeira mulher, e Poronominare, o primeiro homem.
Desta forma, não há argumentos que inocentem os povos que não conheceram o evangélio de Cristo. Deus se fez testemunhar pela criação. A natureza testifica a existência de um Deus supremo. Contudo, o Senhor precisou ser mais explícito a humanidade. Assim, além da revelação geral se fez conhecer mediante Jesus Cristo, Deus encarnado, e a palavra, a Bíblia Sagrada. Se queremos realmente conhecer os atributos do Deus Vivo, precisamos recorrer ao estudo da palavra. Como o Apóstolo Paulo disse: “Conheçamos e prossigamos em conhecer a palavra”.



Bibliografia

RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque: O Testemunho de Deus nas culturas através do mundo. São Paulo, Vida Nova: 1995.

Página da internet: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nhanderuvu%C3%A7u. Pesquisa realizada em: 30.jun.2009.