sexta-feira, 30 de março de 2012

Artigo: Aos jovens economistas

Por Marcus Eduardo de Oliveira (*)


“Perceber que o mais importante
 é o social foi a descoberta
mais relevante  de minha vida”
Celso Furtado, em O Longo Amanhecer

Em “Princípios de Economia”, Alfred Marshall (1842-1924) afirma que a Economia “é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos diários da vida”.
Gregory Mankiw diz que “Economia é um grupo de pessoas que interagem entre si”.
Das muitas definições/objetivos que o termo Economia carrega talvez a de Colin Clark (1905-1989) seja a que melhor se enquadra naquilo que entendemos ser o objetivo precípuo das ciências econômicas: “O objetivo da economia não é a produção de riqueza, mas proporcionar bem estar aos indivíduos”.
O certo é que desde a obra seminal de Adam Smith (A Riqueza das Nações) as ciências econômicas vêm ganhando destaque e relevo na administração pública, guardando, assim, estreita sintonia com a origem do termo que remonta ao pensador grego Xenofonte (430-355 a.C), que definiu Economia pela primeira vez como sendo a “administração da casa”; nos dias de hoje, também pode ser entendido como “administração da coisa pública”.
Feitas essas primeiras incursões, este artigo se põe a discutir junto aos jovens economistas brasileiros o atual e o mais preponderante papel que a economia (enquanto ciência) vem desempenhando na sociedade moderna e, em especial, em sociedades que amargam profundas e históricas desigualdades sociais, como é o típico caso brasileiro.
Quantos de nossos jovens, recém saídos das universidades, diplomados em Ciências Econômicas, se põem a perguntar: quais os desafios da profissão de economista? E agora, como economista formado, o que quero e devo fazer? Como devo agir? Quais são as inquietações reflexivas a que um economista estará exposto? Quais interrogações os cercarão?

Os desafios da profissão em uma sociedade desigual
Uma primeira constatação que o jovem economista brasileiro se depara ao chegar ao mercado de trabalho, é que é impossível fechar os olhos para as gritantes consequências sociais que o atual modelo econômico desagregador impõe a grande parte da população que ora encontra-se sem emprego, sobrevivendo no limite, habitando os já conhecidos “bolsões de pobreza”.
Nesse pormenor, a exclusão social será, certamente, uma situação em que o jovem economista porá um olhar crítico para um completo entendimento da situação social que o aguarda. Talvez esteja ai o primeiro e mais importante desafio para os jovens economistas brasileiros desse século XXI: entenderem as razões que levam um país como o Brasil, com grande potencial de recursos, a amargar um quadro vexatório em quesitos sociais.
Cabe a esses jovens economistas tentar explicar como é possível, numa sociedade moderna, a ocorrência de fortíssima segregação social que põe de um lado os incluídos e, do outro, os excluídos; os ricos-milionários separados dos pobres-miseráveis; os sem terra segregados dos latifundiários. Em suma, um país formado por uma sociedade elitista e uma massificação de excluídos.
Aos jovens economistas conhecedores de história econômica brasileira caberá responder por que ao Brasil, historicamente, coube um papel específico na economia mundial de grande fornecedor de commodities e, dessa maneira, enquanto os mercados externos eram (e são) abastecidos pelo trabalho dos brasileiros, a economia interna regressa no tempo, desamparando os que aqui labutam.
O desafio maior que espera esses jovens economistas no mercado de trabalho talvez seja estudar, pormenorizadamente, essa exclusão social a que fizemos alusão a fim de “entender” um país que é capaz de produzir e exportar aviões, mas incapaz de alimentar decentemente quase 40 milhões de pessoas. Um país que, por anos a fio, tem sido o maior produtor e exportador de suco de laranja, mas que abriga dezenas de milhares de crianças que nunca tomaram um copo desse suco. Um país que fabrica e exporta calçado de qualidade, mas muitos dentre sua população ainda andam descalços dormindo ao relento dos grandes centros urbanos.
Está reservado aos jovens economistas brasileiros, como um dos mais intensos desafios da profissão, responder os motivos de sermos uma das sociedades mais desiguais do mundo, com forte concentração de renda, em que os meios de produção estão nas mãos de apenas 6% da população. Um país em que de cada 20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda (empresa, imóvel ou mesmo o conhecimento).
Esses jovens economistas brasileiros da atualidade, mais do que qualquer outro profissional das ciências humanas, têm a árdua tarefa de explicar por que temos uma carga tributária que onera tanto os pobres (os 10% mais pobres pagam 44,5% mais impostos do que os 10% mais ricos); por que nossa reforma agrária nunca saiu do papel, sendo nosso país o quinto maior em extensão territorial do planeta; um país que exporta vitaminas, mas, no entanto, quase 40 milhões dos que aqui habitam passam fome.
Especificamente sobre a questão agrária, em cujo bojo está implícito o paradoxo de muita terra disponível e muita gente passando fome, segundo os Cálculos do Plano Nacional de Reforma Agrária – Cadastro do INCRA – existem, aproximadamente, 55 mil imóveis rurais classificados como grandes proprietários improdutivos, que controlam 116 milhões de hectares. Eles são apenas 1% de todos os proprietários rurais do Brasil. Também sobre isso deverá o economista moderno lançar análise reflexiva.

O desafio da retomada do crescimento econômico
Esses jovens economistas que ora estão entrando no mercado de trabalho vão se deparar com uma armadilha específica que põe severas amarras à economia brasileira. Atualmente, embora o governo afirme o contrário, a economia brasileira não cresce porque está presa a uma armadilha de altas taxas de juros e baixas taxas de câmbio que mantém as taxas de poupança e de investimentos deprimidas. De tal maneira não há espaço para a criação da demanda necessária (desestímulo ao mercado interno) para que a taxa de acumulação de capital alcance o nível necessário à retomada do crescimento econômico.
Crescimento econômico, por sinal, será algo que deverá perseguir o economista todo o tempo; principalmente aqueles que buscarem na administração pública uma colocação no mercado de trabalho. Mais do que encontrar modelos que respondam por uma adequada taxa de crescimento da economia, deverá o economista, a serviço do setor público, ter clara noção de que o crescimento econômico, para ser solidificado e produzir frutos, deverá ser transformado em desenvolvimento.
Para tanto, o economista moderno obrigatoriamente necessitará ter uma visão ampla do processo social, visto que desenvolvimento econômico, no dicionário da profissão, significa qualidade de vida, significa ainda bem-estar a todos.
Combinando compreensão teórica com explicação técnico-didática, esse profissional somente estará apto a exercer sua profissão à medida que conseguir explicar os fatos econômicos dos tempos atuais com o rigor de excelência que se espera daquelas que tratam a profissão com esmero. E somente conseguirá fazer isso, mediante uma visão panorâmica do ambiente econômico, estando, nesse pormenor, aberto ao processo de criação, uma vez que a sociedade é algo que os homens não param de refazer.
Diante, portanto, de uma sociedade e de sistemas econômicos (incluindo a atividade econômica) que estão longe de ser estáticos (pois suas naturezas são dinâmicas), o economista moderno deve antes ser um analista social capaz de aferir com extrema sensibilidade as manifestações daqueles que almejam construir uma sociedade plural.
Cabe insistir, nesse pormenor, que em sociedades com agudos desequilíbrios sociais, o primeiro compromisso da macroeconomia sempre deverá ser o de erradicar a pobreza, visto que a pluralidade em uma sociedade somente ganhará espaço quando o coletivo sair fortalecido, embora os manuais de introdução à economia insistam em pregar o individualismo.
Depois de erradicada a miséria e banidos os “bolsões de pobreza” que ainda marcam a ferro e fogo a história econômica recente desse país, com a economia doméstica, aos poucos, se ajustando aos padrões de bem-estar coletivo, pensar-se-á na criação de riquezas, como muitos entendem ser esse o real e primeiro objetivo da economia.
Antes disso, uma longa e árdua tarefa espera pelos jovens economistas: a de fazer da economia, por meio da cooperação, uma ferramenta capaz de incluir. Para tanto, cabe ao observador da economia entender que essa ciência não se restringe apenas à frieza dos números, das taxas, dos índices, da econometria, da matematização constante, mas, antes, trata-se de uma economia que tem no ser humano seu ponto focal; afinal, como disse Marshall, a economia “é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos diários da vida”.

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(*) Economista e professor universitário, Mestre pela USP em Integração da América Latina e Especialista em Política Internacional. Autor do livro “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea).

Economia tem a ver com felicidade

Por Marcus Eduardo de Oliveira (*)

O lado consumista do ser humano recomenda que a felicidade repouse na aquisição de produtos e serviços diversos, e, de preferência, em grandes quantidades. Somente por esse pormenor já bastaria para analisarmos a economia pelos seus dois lados mais influentes: a oferta e a demanda. Até mesmo porque tudo parece ser uma questão de oferta e demanda; não à toa esse é um dos principais conceitos da economia.
Evidentemente, junto à oferta e demanda, deve-se levar em conta à variável “preço”; condição essa essencial para deslocar (para cima ou para baixo) a quantidade procurada (demanda) em razão da quantidade fornecida (oferta); isso tudo, é claro, num lugar específico chamado “mercado”.
Pois bem. Utilizando a variável “preço” queremos, por sua vez, apenas para sintetizar essa discussão e não torná-la enfadonha, fazer um link com a variável “renda”, que aponta, essa sim, para a real possibilidade de compra ou recusa dos diversos bens e serviços dispostos nos mercados.
Portanto, pensando friamente dessa forma, ou seja, (no ato de consumir), quanto mais se consumir, mais a felicidade aumenta; ainda que seja não apenas sobre um consumo necessário.
Esse consumo excessivo, que vai além das necessidades básicas, encontra “repouso” nas ciências econômicas no conceito “conspícuo”, ou seja, aquele consumo supérfluo, típico do consumidor voraz pronto para alimentar sua volúpia consumista, atendendo, assim, os ditames da oferta. Ao economista Thorstein Veblen (1857-1929) devemos esse conceito desde 1899.
Portanto, uma primeira direção aqui nos é sugerida: se a felicidade repousa no ato de consumir, como querem alguns, basta consumir cada vez mais para ser muito feliz. Afinal, consome-se de tudo (até mesmo coisas sem sentido) e, em geral, em quantidades que agradam muito aos ofertantes.
Desse modo, como a sociedade, em geral, é muito consumista, pressupõe-se, de imediato, que há muita gente feliz por aí. Nesse sentido, a felicidade é igual ao consumo e o consumo (a chave de ouro do capitalismo) abre as portas da felicidade. Certo ou errado? Você decide!

A diversificação da oferta – o poder da demanda
Tamanha é a diversificação da oferta – cuja demanda parece sempre disposta a responder aos estímulos -, que os economistas, além de calcularem a sensibilidade (elasticidade) da demanda e da oferta em relação aos preços, chegam até mesmo a definir certo tipo de mercadoria chamando-a de “mercadoria não rival”. Essa é aquela mercadoria cujo consumo feito por uma pessoa não impede que outra também a consuma, como um passeio pelo parque público nas manhãs de domingo, a leitura em público de um poema, assistir ao filme do momento num cinema lotado ou mesmo no DVD junto aos familiares reunidos em casa.
Pela pura lógica do consumo, o poder (o falso poder) parece então residir, de fato, nas mãos dos consumidores. John K. Galbraith (1908-2006), um dos economistas mais influentes das últimas gerações, a esse respeito em The Economics of Innocent Fraud: Truth For Our Time diz que “O poder de última instância é o do consumidor. A escolha do consumidor dá forma à curva de demanda. (...) A curva de demanda confere autoridade ao consumidor”.
Parece ser consenso que a teoria econômica, desde seus primeiros passos enquanto ciência foi esboçada dessa forma, sempre olhando o consumidor como figura-alvo. A prática do consumo, não por acaso, é o determinante do vigor econômico. E vigor econômico é o que todos queremos (pessoas, empresas, governo, sociedade em geral), não é mesmo?
A economista Diane Coyle em Sexo, Drogas e Economia (leitura imperdível para quem gosta de ler economia fora do padrão acadêmico dos manuais) corrobora com essa afirmação apontando que “o vigor econômico tem a ver com consumo, não com produção”. Nós acrescentamos que o consumo tem a ver com trabalho, que tem a ver com renda... e, quanto mais renda, mais consumo, mais vigor econômico. Entendemos, definitivamente, que a variável “consumo” é a responsável por puxar qualquer economia para cima. Aqueles que querem que a felicidade esteja correlacionada ao consumo certamente acrescentariam que, dessa forma, pela lógica consumista, alargar-se-á a oportunidade de alcançar a felicidade.
Todavia, essa parece ser a estrutura econômica balizada pelo consumo. Enganam-se aqueles que pensam que a base do capitalismo é a produção. A base (o fundamento) desse sistema é o consumo. Não por acaso alguém já disse que acabar com os consumidores é matar a galinha dos ovos de ouro do capitalismo.
Ademais, feitas essas incursões, convém retomarmos à idéia de felicidade, pois há algo ainda aqui que precisa ser melhor esclarecido.
Será mesmo que para alcançar a dita cuja da felicidade basta apenas consumir, consumir e consumir? Será que essa tal felicidade pode mesmo ser comprada qual fosse uma mercadoria disposta em alguma prateleira?

Maximização da utilidade esperada
Embora o dinheiro não compre felicidade, é um pré-requisito para isso. Assim como o trabalho é o pré-requisito para o dinheiro. Em geral, os economistas querem que todos sejam felizes, e não apenas ricos. Até mesmo porque os economistas caracterizam o comportamento das pessoas quando fazem escolhas com base na maximização da utilidade esperada (espera-se escolher a opção que proporciona a maior utilidade média).
Para entramos nessa discussão, convém, antes, lembrarmos que a economia é construída em cima da estrutura da utilidade, como bem aponta Diane Coyle na obra acima citada.
Utilidade (utilitarismo) para os economistas só faz sentido se pensada em forma de benefício, de bem-estar. A base da Teoria do Consumidor passa pelo conceito de utilitarismo. Esse, por sua vez, pode ser definido como o bem que se identifica com o útil.
Os utilitaristas – Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) - são claros a esse respeito: “a felicidade está na aquisição daquilo que nos é útil”.
O útil, grosso modo, leva à satisfação, leva ao prazer, leva ao bem-estar. Esse é, em essência, o objetivo do economista: proporcionar oportunidades e escolhas disponíveis a todos no dia a dia, auxiliando o maior número de pessoas na busca de algo fundamental: o bem-estar.
Bem-estar, então, se liga de forma íntima à felicidade. Pelo menos é o que diz a ciência econômica quando recomenda a seus fiéis consumidores que maximizem a utilidade esperada, ou seja, que no ato de tomada de decisões (e não somente no ato de consumir) cada indivíduo alcance o maior nível possível de utilidade.
Conquanto, nem sempre essa utilidade está relacionada apenas ao ato de consumir, para desespero da lógica mercadológica. Posso perfeitamente obter utilidade (felicidade) ao encontrar alguém, ao falar com alguém, ao pensar em algo prazeroso, ao ler um poema agradável, ao respirar um ar puro, ao contemplar uma obra de arte ou um monumento público. Estou assim consumindo algo? Sem dúvida; no entanto, não estou colocando a mão no bolso para isso. Para desespero do capitalismo, reiteramos, nem sempre um consumo vem seguido de gastos. Portanto, as portas da felicidade podem não ser aquelas que nos levam ao comércio/mercado.

Resultados sociais
Se a economia é uma ciência social, nada mais justo que seus resultados apresentem um significado social – e não apenas econômico, como quer a lógica econômico-consumista-mercadológica.
No entanto, esse lado social imerso nessa lógica econômica tem ficado à margem das decisões que priorizam, apenas, e tão somente, o lado econômico. O lado social sempre foi – e continua a ser – relegado a quinto plano.
Pelo lado econômico, o que tem validade são os ganhos financeiros, não os prazeres-utilitários que não envolvem somas de dinheiro. O que interessa, para o lado econômico, é o predomínio econômico-financeiro, não a abrangência social. Essa é a razão da existência de algumas discrepâncias que, em nosso entendimento, beiram a patologia.
O Human Development Report  1998 (p.37) atestava que “o mundo tem recursos mais do que suficientes para acelerar o desenvolvimento humano para todos e para erradicar as piores formas de pobreza do planeta”. Para tanto, a fim de universalizarem-se os serviços sociais básicos bastaria US$ 40 bilhões. Isso significa míseros 0,1% da renda mundial. Isso seria, portanto, o lado social sendo aflorado. Mas não é o que interessa aos grandes grupos que detém e dominam a cena econômica. Passados mais de dez anos do referido Relatório, nada mudou. A lógica econômica continua com a mesma recomendação: vender, vender, vender e, de preferência, excluir o lado social nessa vendas.
Nessa linha de análise as distorções continuam grotescas. Para assegurar educação básica para todos precisaríamos de US$ 6 bilhões, mas não se consegue esse valor. No entanto, os gastos em cosméticos apenas nos EUA são de US$ 8 bilhões ao ano, em média. Para assegurar água e saneamento para todos seriam necessários US$ 9 bilhões. Mas, não há “recursos” para isso. Preferem-se gastar US$ 11 bilhões em sorvetes na Europa. Saúde e nutrição básica para todos exigem cifras de US$ 13 bilhões suplementares por ano. Mas não há “dinheiro” para isso. Como o que predomina é a lógica do consumo sem sentido, a Europa e os EUA juntos gastam, ao ano, US$ 17 bilhões em ração para animais de estimação. Fora isso, apenas no Japão, os executivos se divertem em entretenimentos que “alimentam os desejos da carne” torrando por ano US$ 35 bilhões. Na Europa se gasta US$ 50 bilhões em cigarros e em bebidas alcoólicas todos os anos (em média) e o mundo literalmente “queima” US$ 400 bilhões em narcóticos.
Definitivamente, “o mundo não é uma mercadoria” como nos ensina o professor Henrique Rattner e, “nem tudo está à venda” (everything for sale) como alerta Robert Kuttner, para outra situação de desespero do sistema capitalista.
Logo, a felicidade, nesse sentido, não pode (e nem deve) repousar suavemente sobre o “nobre” ato do consumo exagerado que exige, por conseqüência, elevados dispêndios. Lembremos: o consumo consome o consumidor!
Há algo muito mais interessante que leva à felicidade, ainda que a publicidade, principalmente a televisiva, nos bombardeie diariamente recomendando o consumo a qualquer custo. E a economia, para os desavisados de plantão, tem tudo a ver com isso.
Basta atentarmos para o seguinte: onde a economia estará no futuro depende daquilo que milhões de nós faremos nesse meio tempo até lá. Cabe a nós decidirmos o futuro. O futuro nos pertence e a felicidade, certamente, há de nos esperar na próxima esquina abraçada à maximização da utilidade esperada.
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(*) Economista, mestre pela USP e professor universitário. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).


terça-feira, 27 de março de 2012

Belém Sustentável em Debate: Saúde - 05 de abril

Artigos que embasarão debates durante o ENAM poderão ser entregues até o dia 06 de abril


O Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (CORECON-PA) informa que o (s) resumo (s) expandido (s) dos artigos que embasarão o VI Encontro de Entidades de Economistas da Região Norte (ENAM) poderão ser entregues até o dia 06 de abril, das 8h00 às 12h00 e das 14h00 às 18h00, na sede do CORECON-PA, localizada à Rua Jerônimo Pimentel, 918, Bairro Umarizal – Belém-PA.
Os artigos aptos a integrarem a coletânea que tem como finalidade valorizar as produções com foco na realidade da Região Amazônica serão exclusivamente aqueles voltados à temática do VI ENAM, referentes ao período histórico de 1912 a 2012 e que se compatibilizem com o Termo de Referência e com os seguintes Eixos Temáticos: 1) A Questão da Produção de Conhecimento Regional e a Biodiversidade; 2) Infraestrutura, Transporte e Logística na Amazônia; 3) Pólos Industriais na Amazônia; 4) Mineração na Amazônia: Maldição ou Dádiva?; 5) Os Grandes Projetos Energéticos e o Desenvolvimento da Amazônia e 6) O Federalismo Fiscal Brasileiro e a Amazônia como Almoxarifado do Desenvolvimento Alheio.
Seguindo as especificações do Edital, qualquer pessoa que se julgar apta poderá escrever o (s) artigo (s) para participar de publicações e de grupos de trabalhos que serão realizados durante o VI ENAM, que acontecerá nos dias 06, 07 e 08 de junho, em Belém e terá como tema principal “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha: do Retrospecto ao Prospecto”.
Os autores deverão entregar o (s) resumo (s) expandido (s) dos artigos, acompanhados de solicitação formal de inscrição. Quanto ao Termo de Referência do regulamento para a seleção dos artigos, a solicitação pode ser efetuada através do telefone: (91) 3223-1988 ou através do e-mail: adm@coreconpara.org.br ou ainda, na sede do CORECON-PA.

Fonte: Assessoria de Comunicação do CORECON-PA

Artigo: Descubra o seu economista interior



Por Luiz Alberto Machado (*)

“A economia é um estudo da humanidade
na atividade comum da vida.”
Alfred Marshall

Costumo dizer aos meus alunos no início do curso de Economia que a partir do momento em que iniciam um curso universitário, eles estão começando a buscar um diferencial em relação a qualquer pessoa: esse diferencial é o diploma que deverão obter ao final do curso. Isso fará deles economistas diplomados, ao passo que qualquer outra pessoa continuará sendo um economista sem diploma.
Por que isso?
É simples. Como os recursos são limitados e as necessidades humanas não, qualquer pessoa é obrigada a tomar decisões o tempo todo, escolhendo no que utilizar seus recursos escassos e renunciando, dessa forma, a inúmeras outras possibilidades alternativas. É por isso que também costumo dizer que mais do que a ciência da escassez, a Economia é a ciência da renúncia. Afinal, a cada vez que tomamos uma decisão, escolhendo onde aplicar nossos recursos, renunciamos a um número enorme de outras escolhas e isso nem sempre é fácil de fazer.
Esta é a razão pela qual afirmo que todos são economistas, pois a cada vez que tomamos uma decisão de como alocar nossos recursos, nós estamos agindo como economistas, independentemente de termos ou não um diploma.
Portanto, o problema econômico por excelência – válido para um indivíduo, uma empresa, uma instituição, um município, um estado ou um país – é o de compatibilizar necessidades ilimitadas com recursos limitados.
Na prática, no entanto, as coisas não são assim tão simples e a Economia é vista pela maior parte das pessoas como uma ciência extremamente complexa, enquanto os economistas – muitas vezes com razão – são vistos como um tipo de profissional que abusa de um palavreado próprio, só compreendido por seus pares ou por pessoas dotadas de uma inteligência superior.
Por essa razão, têm surgido nos últimos tempos diversos livros com o objetivo de mostrar que além de não ser uma área de conhecimento tão complexa assim, a Economia faz parte do dia a dia de qualquer pessoa.
O primeiro desses livros a fazer enorme sucesso, tornando-se um verdadeiro best seller em diversos países, foi Freakonomics, publicado em 2005 e que foi objeto de um artigo meu.
Nessa mesma perspectiva insere-se o livro Descubra o seu economista interior, de autoria de Tyler Cowen, professor de economia na George Mason University e autor daquele que é considerado o principal blog de economia em todo o mundo: www.marginalrevolution.com. Por sua capacidade de escrever de forma acessível sobre assuntos complexos, seus artigos são muito apreciados e, além de escrever regularmente para o New York Times, Tyler Cowen colaborou com diversos veículos de grande prestígio, tais como a revista Forbes, The Wall Street Journal, Newsweek, The Washington Post, Los Angeles Times e The Wilson Quarterly.
Com o sugestivo subtítulo Use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista, o livro reconhece que os mercados podem simplificar nossas vidas, mas
a sacada econômica fundamental, por mais estranho que pareça, é que nem tudo pode ser comprado com dinheiro. Isso parece tão óbvio para o cidadão comum que a maioria de nós nem sequer pensa a respeito. Nosso Economista Interior sabe que dinheiro não compra amor, respeito, paz de espírito. Nossos chefes – ou empregados – sabem que um bônus não vai resolver todos os problemas do local de trabalho. Se não pode ser comprado com dinheiro então simplesmente não existe mercado para o objetivo de desejo.
Já que não existem mercados por todos os lados, temos de motivar as demais pessoas, e motivar nós próprios, para chegar aonde queremos. Compreender e lidar com esse problema é a função deste livro. Usar incentivos e usar mercados das formas mais efetivas é muito mais difícil do que simplesmente sair para comprar uma banana.
Não possuindo – como a maior parte dos livros atualmente publicados – nem prefácio nem introdução, o capítulo 1 – Eu quero uma banana, eu compro uma – desempenha, de certa forma, esses dois papeis, apresentando uma excelente visão do que será visto no decorrer dos 10 capítulos e das 250 páginas do livro.
Nesse capítulo, o autor chama a atenção para a difícil convivência entre a economia teórica e a economia aplicada, algo perfeitamente compreensível numa área do conhecimento em que
a complexidade e diversidade das motivações humanas deveriam estar subjacentes às próprias fundações do raciocínio econômico. O modo como as pessoas determinam suas escolhas em geral depende do contexto social, como que motivações percebemos naqueles que nos cercam e como achamos que nossos colegas nos vêem. Se queremos tomar decisões melhores de modo a conseguir mais das boas coisas da vida, devemos aprender a distinguir um contexto social de outro. [...] temos de imaginar como as outras pessoas identificam e distinguem diferentes contextos e desse modo o que acham que estão fazendo e o que acham que nós estamos fazendo. Precisamos compreender as crenças humanas.
Essa difícil convivência leva o autor a afirmar que “a economia aplicada é tanto uma arte como uma ciência” e a reconhecer que “os economistas não podem solucionar todos os nossos problemas, mas contemplar a complexidade da motivação humana ajudará a tomar melhores decisões”. A partir dessa ótica, o autor apresenta as duas ferramentas básicas por meio das quais a vida comum será examinada ao longo do livro:
·                a compreensão do poder (e dos limites) dos incentivos; e
·                um reconhecimento da complexidade e diversidade dos seres humanos.   
Tyler Cowen dá especial ênfase também às complicações decorrentes do uso exagerado de uma retórica que, aparentemente, não consegue distinguir o que é sofisticado do que é rebuscado.
Como profissionais de qualquer campo, os economistas tendem a se esconder atrás da terminologia e do jargão. Nós economistas temos um fraco em particular por esmiuçar nossas afirmações a ponto de obscurecê-las. Harry Truman certa vez pediu que lhe arrumassem um economista de um braço só, assim ele não iria ouvi-lo dizer “on the other hand...”.
Tal observação se assemelha à da primeira ministra Margaret Thatcher, que – dotada do mesmo sentimento – afirmou: “Pessoas normais viajam numa estrada; economistas viajam numa infraestrutura”.
Ciente desse exagero tão comum a seus colegas economistas, Tyler Cowen cita três princípios básicos capazes de distinguir a boa economia (aquela que é compreensível para as pessoas comuns) da má economia (repleta de ciladas de desumanidade, de verborragia e de excessiva embromação):

1. O Teste do Cartão-Postal
Deve ser possível tomar um bom argumento econômico e escrevê-lo no verso de um cartão-postal de tamanho razoável. Se um argumento tem passos demais, pelo menos um deles fatalmente estará redondamente incorreto. Ou, ainda se tem passos demais, não saberemos como todos esses diferentes passos se encaixam uns nos outros para estabelecer a conclusão do argumento.
Quando meus alunos de pós-graduação me aparecem com ideias novas, a primeira coisa que faço é dizer com a voz mais desagradável de que sou capaz: “Traga-me a versão de cartão-postal.” Os que já me conhecem bem entram em minha sala gritando: “Eu tenho o cartão-postal!” os que dizem que é necessário ler todo seu ensaio de 46 páginas para captar a mensagem central são mandados de volta à prancheta de trabalho.

2. O Teste da Vovó
A maioria dos argumentos econômicos deve ser compreensível para sua avó. A vovó pode até não concordar, mas no mínimo precisa entender do que o economista está falando. Se a vovó é a economista da família, e abusa ela própria do jargão, tente um de seus recalcitrantes primos.

3. O Princípio do "A-há"
O Princípio do "A-há" é uma extensão do Teste da Vovó. Se os conceitos básicos forem bem apresentados, o economês tem de fazer sentido. Bons economistas acreditam que vivemos nossas vidas segundo princípios que qualquer um pode entender. Talvez aconteça de nem sempre compreendermos o que estamos fazendo quando tomamos decisões, mas os argumentos econômicos e os mecanismos devem ser reconhecíveis. Afinal de contas, o argumento é sobre nós. Assim, se alguma observação econômica claramente expressa é objetiva, deve estimular as áreas “A-há” [também conhecidas pelos nomes de “eureka” e “insight”] de nosso cérebro. Sei que isso pode soar um pouco metafísico, mas a ideia é que uma observação econômica claramente expressa deve de fato fazer alguma diferença para nós no nível pessoal. Ela tem de ser uma revelação. 
As duas ferramentas e os três princípios básicos estarão presentes em todo o livro, pois é com eles que Tyler Cowen analisará, nos capítulos seguintes, aspectos super abrangentes e, pelo menos supostamente, desvinculados da economia, entre os quais: como controlar o mundo; possua toda grande arte que já foi criada; mantenha a boa imagem em casa, em um encontro ou numa sessão de tortura; a perigosa e necessária arte de se autoiludir; coma bem, bananas à parte; evitando os sete pecados capitais (ou não); como salvar o mundo – mais presentes de Natal não vão funcionar; e, por fim, Seu Economista Interior e o futuro da civilização.
Embora não tenha o mesmo impacto que o pioneiro Freakonomics, o livro consegue, em minha opinião, atingir o objetivo a que se propõe, razão pela qual recomendo sua leitura não só para os economistas diplomados, mas também para todos aqueles que estão o tempo todo decidindo e agindo como economistas.

Iscas para ir mais fundo no assunto

Referências e indicações bibliográficas
COWEN, Tyler. Descubra o Seu Economista Interior: use a economia para se apaixonar, sobreviver ao seu próximo encontro e motivar seu dentista. Rio de Janeiro: Record, 2009.
DUBNER, Stephen J., e LEVITT, Steven D. Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta: as revelações de um economista original e politicamente incorreto. Tradução de Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
Referências e indicações webgráficas
MACHADO, Luiz Alberto. Leitura imperdível – Freakonomics. Disponível emhttp://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=3631.