Como
bom economista heterodoxo, que tem fundamentos nas teorias seminais de Marx,
Keynes, Kalecki, Shumpeter e na Escola Estruturalista Latino-Americana,
compreendo muito bem o papel da luta de classes na sociedade capitalista. Da
mesma forma, entendo como o capital acaba mercantilizando todas as relações
sociais na ânsia de ampliar os seus horizontes de valorização, inclusive as instituições
políticas da sociedade.
Desta
forma, tentar reduzir o atual momento da sociedade brasileira a uma mera
disputa entre burguesia de “panela cheia” e trabalhadores “de pratos vazios” é
um exercício de má fé e uma tentativa de tirar o foco da principal pauta posta
hoje na sociedade brasileira: a corrupção.
As
nossas instituições políticas estão corrompidas. Os nossos partidos
contaminados. O “jogo político” de “cartas marcadas”. Neste contexto, o
financiamento de campanhas políticas e o processo de cooptação praticado nos
exercícios legislativos levam muitas vezes ao processo de usufruto privado
dos recursos públicos por meio da corrupção.
Os
nossos valores como sociedade estão deturpados. Precisamos recuperar a boa
política, que não olhe para projetos pessoais ou de grupos, mas que faça do processo
democrático um meio de construção de uma sociedade mais justa, mais digna, mais
honrosa, com valores e princípios corretos. Assim, o debate atual não é entre
PT ou PSDB. Entre burguesia e proletariado. Mas entre os bons e os maus
valores. O nosso debate é sobre a corrupção. Não podemos mais tolerar escândalos
após escândalos e seguir as nossas vidas como se nada tivesse acontecendo, ou
como se este debate não tivesse nada a ver conosco. Somos afetados diretamente.
Somos as principais vítimas do processo político viciado.
Precisamos
realmente reconstruir os nossos fundamentos políticos. E estes fundamentos
somente serão reconstruídos quando aprendermos a votar corretamente como
sociedade. As manifestações populares são justas e necessárias. Mas de nada
adiantará se nas próximas eleições reconduzirmos os nossos “algozes”, os “algozes”
dos valores éticos e morais de nossa sociedade para novos mandatos. Está na
hora de dizermos basta!